Quem acompanha o que escrevo, sabe que o jogo de post-up tem um lugar especial no meu coração. No lugar reservado para o basquetebol, o post-up ocupa uma posição de privilégio. Primeiro, para quem não sabe ainda, post-up é o jogo de costas pra cesta. Normalmente, seria chamado de jogo de pivô, mas como não é usado apenas por pivôs, o nome em inglês é mais apropriado. Assistindo aos jogos da NBA, vejo o post-up ser usado cada vez menos.
Por quê?
Sim, a qualidade dos Centers da NBA não é a mesma. Os dois melhores da Liga, hoje, Dwight Howard e Andrew Bynum, fariam parte do segundo time nos anos 80 e 90. Howard e Bynum estão no nível de Rik Smits, Dikembe Mutombo, Alonzo Mourning, entre outros.
Claro que isto não é culpa deles. Mas, contribuiu para a falta de post-up na NBA moderna.
Será que, somente a falta de qualidade dos pivôs é a culpada pelo desaparecimento do post-up? Não, não é.
Defesa por zona:
Em 2001-02, a NBA eliminou a defesa ilegal. Antes disso, um jogador tinha que esperar o pivô receber a bola para fazer a marcação dupla. Se ficasse acampando, marcando o pivô antes da bola chegar, o ataque receberia um lance-livre de bonificação. Defesa ilegal (sim, é mais complicado, mas esta é a parte que nos interessa no momento).
Olhem como Hakeem Olajuwon e Kevin McHale trabalhavam no post-up:
Coisa linda, né?
Com as regras de defesa ilegal, Hakeem e McHale têm décimos de segundo a mais para atacar a cesta. Ajuda serem dois dos mais talentosos jogadores de post-up na história da NBA. Mesmo assim, estes décimos de segundo dão um pouco de liberdade perto da cesta.
Nos dias de hoje, a NBA permite defesa por zona. Com a zona, times podem encher de gente no lado da bola,m tornando o jogo no post-up mais abarrotado.
A defesa por zona empurra os ataques da NBA para fora. Somente 12 dos 60 times com mais arremessos de 3 pontos em uma temporada são da era pré-zona. Com menos espaço para jogadores como o virtuose Olajuwon, jogadores fogem do post-up e, cada vez mais, arremessam de fora.
NBA elimina o hand check:
Antes de 1994-94, os marcadores do perímetro podiam colocar uma mão no atacante e "guiá-lo" para onde existia ajuda defensiva. O hand check tornava mais difícil a infiltração dos jogadores de perímetro.
Um clássico exemplo de hand check que, na NBA atual, seria uma falta clara para os árbitros. O vídeo completo tem mais exemplos de como o Detroit Pistons usava o hand check para guiar Michael Jordan para a ajuda.
Sem o hand check ficou mais fácil de furar a defesa de perímetro, tornando, até certo ponto, menos necessário desenvolver um post-up forte.
O MDE:
Em 1992, uma força da natureza entra na NBA:
Shaquille O'Neal. O último dos superpivôs.
Com Shaq em cena, jogadores da NBA que, normalmente seriam Centers, preferiram a posição de Power Forward. Tim Duncan, mesmo após a aposentadoria de David Robinson, seguiu como o PF do San Antonio Spurs. Kevin Garnett mentiu sua altura, pois temia que, se listado como 2,16m, seria colocado como Center.
Com isso, veio uma das primeiras revoluções de posições e o stretch four, o PF que joga mais longe da cesta, virou costumeiro na NBA.
Não mais jogadores altos como Dirk Nowitzki, LaMarcus Aldridge ou Kevin Love precisam ficar de costas para a cesta, perto do garrafão.
Um pouco subjetivo? Concordo.
No entanto, ninguém vai me convencer que, jogar contra o Mais Dominante de Todos os Tempos não fez com que alguns Centers resolvessem sair de perto da cesta, jogando de PF.
O único Center que Shaq não dominou foi Hakeem Olajuwon. Os dois tiveram batalhas equilibradas durante suas carreiras.
Shaq apareceu quando os pivôs dominantes da NBA não usavam força. Hakeem, David Robinson, Patrick Ewing. Todos preferiam arremessos, ganchos. Shaq era feroz. Ele usava sua força para tentar enterrar todas as vezes que chegava perto do aro.
O Superman Original não era só força. Poucas vezes se viu um homem do tamanho de O'Neal se mover tão rapidamente. Seu giro para o fundo da quadra, o Black Tornado, era algo lindo de se ver.
Até um Shaq em final de carreira deixou adversários mais jovens, rápidos comendo poeira. Perguntem ao Joakim Noah.
Depois de Shaquille O'Neal, a NBA teve mais um pivô clássico: Yao Ming. O chinês, mesmo sem lesões, não chegaria ao patamar de Olajuwon, Shaq.
Não é "sexy":
Com as mudanças de regras, dificulade maior de se jogar no post-up e facilidade para atacar do perímetro, jogar de costas para a cesta é, cada vez mais, considerado menos divertido, menos legal, menos sexy do que vir de fora para a bandeja ou enterrada, ou que um arremesso de 3 pontos.
Ultimamente, um revival do post-up tem acontecido. Desde que Kobe Bryant contratou Olajuwon para treiná-lo, Dwight Howard, Amar'e Stoudemire, LeBron James e Carmelo Anthony também conversaram com o ex-Houston Rocket.
James recebeu elogios pelo seu post-up nas Finais de 2012. Ele deixou o jogo mais fácil para ele e companheiros do Heat. Nesta temporada James parece mais distante do garrafão. Talvez isto mude nos playoffs. Talvez não.
De qualquer maneira, foi provado que um bom jogo perto da cesta pode conquistar títulos.
Vou ali torcer para o retorno de um post-up forte na NBA. Enquanto ele não chega, vou ficar assistindo aos vídeos que não entraram na matéria:
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