Até alguns anos atrás, o basquetebol era simples. Armadores criavam as jogadas. Ala-armadores pontuavam. Alas faziam de tudo um pouco. O ala-pivô era um pivô com um pouco de habilidade nos arremessos. E os pivôs protegiam a cesta e pegavam rebotes. Tudo simples em sua caixa, perfeitamente explicado. Não mais, a revolução posicional mudou tudo isso. Começando nos anos 90 e atingindo seu pico nos dias de hoje.
Não começou com eles, mas o Chicago Bulls de Michael Jordan e Scottie Pippen foi a primeira equipe a colocar a revolução posicional nos holofotes. Pippen iniciava o ataque do Bulls na maioria das vezes. Jordan outras vezes. O armador, que antes deveria criar jogadas, tornou-se um arremessador de 3 pontos.
Principalmente no segundo tricampeonato do Bulls. Ron Harper, antigamente um ala-armador, virou um armador. Como tinha altura, Harper ajudava na longilínea defesa de perímetro do Bulls, com Pippen, MJ e Ron. No ataque, Harper deixava a armação para os companheiros mais famosos e ficava como uma isca, se aproveitando dos buracos deixados pela preocupação das defesas adversárias com Pippen e Jordan.
Outro pulo evolucional chegou com Kevin Garnett e Dirk Nowitzki. Dois ala-pivôs que não se encaixavam no que todos conheciam da posição. Com um bom arremesso de meia distância, habilidade para colocar a bola no chão e atacar a cesta, KG e Dirk afetaram o jogo de uma maneira diferente do que Karl Malone.
O Washington Wizards de Gilbert Arenas e Larry Hughes aboliu o armador clássico. Com dois "combo guards" (armadores pontuadores/ala-armadores com habilidade para iniciar o ataque) e Antawn Jamison jogando como Jamison o Wizards também não se encaixava nas convenções do basquetebol.
Depois de diversos anos de fracasso com times que mudavam a percepção das posições, a ideia morreu. Na verdade, morreu é uma palavra muito forte. Ela adormeceu. Talvez tenha esperado o momento certo para reaparecer, quando o basquetebol tivesse aceitado estatísticas avançadas e novas maneiras de enxergar o jogo.
Hoje, o Miami Heat é um bom exemplo disso. LeBron James e Shane Battier são dois alas. Apesar de fazerem parte da mesma posição, seus papéis são completamente diferentes. James arma o jogo e é a principal opção de ataque do Heat. Battier cumpre seu papel, defendendo e convertendo arremessos de 3 quando livre.
Com James, o Heat deixa seu armador, Mario Chalmers, de lado e o transformou em um pontuador. Chalmers não tem a responsabilidade de organizar o ataque. Por isso, tenho defendido a ideia do Heat trocar Chalmers por um "combo guard" parecido com Ron Harper.
Nesta temporada, o New York Knicks passou por algumas revoluções posicionais. Primeiro, com a lesão de Amar'e Stoudemire, Carmelo Anthony passou de ala para ala-pivô. Melo encontrou espaços como ala-pivô. Rápido demais para os outros ala-pivôs e forte demais para os outros alas, Anthony criou um problema para a marcação. Além das vantagens no ataque, Anthony é um defensor muito bom no post up, mas falta velocidade lateral para acompanhar alas mais rápidos no perímetro. Outra boa solução para o Knicks.
Ao contrário do Wizards, o Knicks usou dois armadores convencionais. Os melhores times do Knicks nessa temporada contaram com alguma combinação de dois de seus armadores: Raymond Felton, Jason Kidd e Pablo Prigioni. A movimentação de bola diminuía quando o time jogava com um armador só.
Mais um time moderno que mudou a noção de posições? O Oklahoma City Thunder. Kevin Durant tem responsabilidades de ala, ala-pivô e armador. Russell Westbrook seria execrado como armador nos anos 70 e 80 quando jogasse quase como um ala-armador. E o protetor de aro do Thunder, Serge Ibaka, abre o ataque com chutes de 3.
Até o Bulls ainda usa posições de maneira não ortodoxas. O time precisa dos passes de Joakim Noah. E, não sei o que Derrick Rose é, mas armador parece ser um discrição muito restrita para seu estilo de jogo.
A revolução posicional nos traz um basquetebol mais fluído, mais dinâmico, menos rígido. No entanto, times como o San Antonio Spurs e Indiana Pacers, que apresentam um elenco mais clássico, não sumirão. O sucesso é inevitável quando o elenco tem a qualidade dos citados.
A revolução posicional veio para ficar. Ainda que poucos atletas possam fazer de tudo um pouco, ou sair do quadro pintado para suas posições. Esta revolução só foi possível com uma mudança na cabeça dos executivos, que estão mais abertos para estratégias que não encontrariam voz ontem.
Por enquanto, times que não contam com o melhor jogador de basquetebol do mundo e participam da revolução posicional são vistos como mais fracos. Zebras. Azarões. Que vão contra tudo que aprendemos. Talvez por isso, eles resolvam moldar suas identidades em um "a gente contra o mundo".
Talvez seja. Pelo menos no momento. Enquanto a maioria das pessoas não aceitarem, esses times seguirão sendo descartados.
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